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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Lenda da Sempre Noiva

Esta lenda tem três versões, daí que esteja dividida em três partes.

Perto de Arraiolos, ergue-se um belo solar construído entre os séculos XV e XVI, que tem o nome romântico de Solar da Sempre-Noiva. A maioria dos monumentos desta época que ainda se encontram de pé são monumentos religiosos, como igrejas e conventos, ou então monumentos militares, como fortes e muralhas.
Este solar, embora em ruínas, é precioso, pois é uma das poucas casa em estilo manuelino que não desapareceu. Conserva ainda elegantes janelas com arcos de ferradura e uma arcaria a que se dá o nome de galilé.
A lenda da Sempre-Noiva está associada a esta propriedade, muito antes de existir o solar. Contam-se pelo menos três histórias com este nome!

A primeira sempre-noiva

Curiosamente, esta primeira lenda junta na mesma narrativa as duas tradições de Arraiolos, precisamente os tapetes e a Sempre-Noiva...
Ao que parece, no tempo das lutas entre cristãos e mouros, vivia ali uma donzela que ficou noiva em má altura pois no dia do casamento a vila foi atacada e o noivo teve de partir para o combate.
Nesse tempo as guerras prolongavam-se por tempos infinitos e, não raro, mal acabava uma começava outra!
Assim, quando passado muitos anos o rapaz voltou e quis casar, a noiva, contristada por ter perdido a beleza da juventude, demorou a aparecer! E quando os convidados já desesperavam que o casamento se efectuasse, ela apresentou-se coberta com um tapete para ocultar as «marcas do tempo».

A segunda sempre-noiva

A segunda Sempre-Noiva chamava-se Beatriz e era filha de D. Álvaro de Castro, irmão da malograda Inês de Castro e primeiro conde de Arraiolos. Beatriz era uma jovem de fulgurante beleza, não admira pois que um castelhano chamado Afonso de Trastâmara se apaixonasse por ela.
Mas estes foram tempos conturbados! Portugal estava em guerra com Castela.
Corria o ano de 1384, Lisboa estava cercada pelos espanhóis. O trono estava vago, e era o mestre de Avis quem comandava a resistência dentro da cidade. Beatriz encontrava-se também em Lisboa e, por qualquer motivo obscuro, o mestre de Avis suspendeu as hostilidades, deixou entrar um nobre espanhol chamado D. Pedro Álvares de Lara e casou-a com ele.
Esta festa deve ter parecido bastante bizarra aos olhos do povo, que dentro das muralhas sofria os tormentos da guerra!
Mas visto que decorreram seiscentos anos sobre o incidente,torna-se difícil ajuizar sobre os motivos que levaram as pessoas a proceder assim.
De qualquer forma, o casamento não chegou a consumar-se porque o noivo, regressando com Beatriz ao acampamento dos espanhóis, morreu de peste.
Afonso de Trastâmara recuperou a esperança de casar com a sua amada, mas morreu quando pelejava valentemente para a impressionar.
Depois da luta acabadas e de o mestre de Avis subir ao trono, Beatriz voltou a viver em Portugal e o rei lembrou-se de a dar em casamento a D. Nuno Álvares Pereira, que tinha ficado viúvo e a quem tinha sido dado o título de segundo conde de arraiolos. Mas ele recusou.
E consta que o rei, conversando com ela longamente a fim de encontrar marido que lhe conviesse, acabou por ficar ele próprio cativo da sua beleza! Talvez por isso, não só não voltou a escolher-lhe outro noivo como mandou matar Fernando Afonso que casou com ela secretamente. E mandou-o matar de uma forma cruel: queimado numa fogueira armada na praça pública, para toda a gente ver.

A terceira sempre-noiva

Também se chamava Beatriz a terceira Sempre-Noiva.
Era filha de D. Afonso de Portugal, arcebispo de Évora, que era um homem cheio de iniciativa. Mandou construir vários conventos e palácios, entre os quais este solar onde ela sempre residiu.
Esta menina estava noiva de um nobre espanhol, muito vaidoso mas muito medroso também!
Certo dia, passeando com ele pelos campos, surgiu um toiro tresmalhado que correu para eles. Em vez de a defender, o noivo fugiu a sete pés e foi o maioral quem veio garbosamente em seu socorro.
Esporeou o cavalo e conseguiu arrebatá-la no último instante! Conduziu-a depois na garupa até casa, e desse abraço ela não se libertou mais.
Apaixonara-se irremediavelmente pelo seu salvador. Mas nesse tempo uma menina nobre não podia casar com o seu criado...
Beatriz preferiu ficar solteira toda a vida, rejeitando com indiferença os mais ilustres pretendentes.

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